21 de jun. de 2011

Meia-Noite em Paris



Que delícia é ver novamente um bom Woody Allen, cheio de encanto. O filme já começa lindo, com uma sequência de imagens de Paris. Mas ainda continua seus méritos com elenco inspirado, a começar pelo "perfeito para o papel" Owen Wilson. É uma pena que eu não conhecesse mais ainda sobre os personagens do passado que ele visita. Mas as situações que ele cria com o Dali e com o Buñuel já são ótimas. Além de tudo, um final otimista. Finalmente, só o Woody Allen para acabar com esse pessimismo atual no cinema. 


Minha Cotação: * * * *






CONTO DE FADAS REFERENCIAL E AUTORREFERENCIAL
Por RICARDO COTA
 

16/6/2011 
http://www.criticos.com.br/new/artigos/critica_interna.asp?artigo=2199



Texto publicado anteriormente durante o Festival de Cannes, em 12/05/2011

Não tem mistério. Meia-Noite em Paris, o mais recente Woody Allen que abriu o 64º Festival de Cannes, é um filme autorreferencial. E por isso é bom, muito bom. Imaginem uma criativa mistura de Manhattan com A Rosa Púrpura do Cairo, um banho de sofisticação do hotel Le Bristol com um toque do mais legítimo bas-fond do Quartier Latin . Resultado? Meia-noite em Paris.

Como em Manhattan, Allen abre o filme com um prólogo de arrepiar. São imagens de recantos de Paris, sob o sol, sob a chuva, embaladas pela dolente Si tu vois ma mère, de Sidney Bechet. Uma sequência que já tem seu lugar na história do cinema. “Paris é uma Nova Iorque mais bela”, disse em entrevista ao Le Figaro. Talvez por isso tenha escolhido Darius Khondji, o mesmo de A Praia, para fotografar a cidade num reluzente colorido, ao contrário do preto e branco de Manhattan.

A trama pode ser resumida como um conto de fadas para intelectuais, uma assumida farsa. Às vésperas de seu casamento, Gil (Owen Wilson à la Allen) viaja com a noiva Inez (Rachel McAdams, nova deusa na lista do diretor) e os prováveis sogros para Paris. Gil é um roteirista bem-sucedido mas insatisfeito com sua produção lowbrow. Seu sonho é escrever um livro de sucesso . Viaja em busca de inspiração.

Os planos começam a naufragar quando ele a noiva encontram um casal de amigos americanos: Paul (Michael Sheen), um intelectual francófilo afetadíssimo, e a mulher. Paul seduz Inez com seus conhecimentos sobre arte, literatura e enologia. Gil acaba solitário na noite parisiense. Como em qualquer conto de fadas, as badaladas da meia-noite transformam o real em magia. E, sem maiores explicações, Gil é transportado para os anos 20, cercado de gente como Zelda e Scott Fitzgerald, Cole Porter, Ernest Hemingway e Picasso.

O inusitado encontro rende anedotas típicas de Woody Allen, como o momento em que Gil sugere a ideia de um filme, O Anjo Exterminador, a ninguém menos que Luís Buñuel. O elenco compra a brincadeira e torna tudo mais fácil com caracterizações impagáveis, como o Salvador Dalí de Adrien Brody ou a Gertrude Stein de Kathy Bates. A nota destoante é uma apagada Carla Bruni, no papel de guia do Museu Rodin.

Woody Allen traça caricaturas sem deixar que o filme seja apenas caricatural. Há alfinetadas no conservadorismo americano, concentradas nos diálogos entre Gil e o sogro, críticas ao exibicionismo intelectual e mais uma digressão, à feição do autor, sobre a nostalgia e as interseções entre o tempo passado, presente e futuro. Tudo com humor refinado e muito romance. Só Woody Allen poderia manusear clichês da intelectualidade parisiense sem ser destroçado pela crítica francesa. Ele pode.

A paixão do cineasta por Paris é antiga. Em 1964, Allen hospedou-se durante oito meses no suntuoso George V para escrever aquele que ele mesmo considera um dos seus piores roteiros: “What´s New Pussycat?”. O fracasso no trabalho não impediu que nascesse ali uma relação de afeto com a cidade que só aumentaria com a acolhida obtida por seus filmes ao longo da carreira.

Em Meia-Noite em Paris, Allen encontrou uma forma de retribuir esse amor prestando uma homenagem à Paris de hoje e de sempre. Garantiu assento perpétuo, e merecido, no coração dos franceses. E dos francófilos, bien sûr !

# MEIA NOITE EM PARIS (MIDNIGHT IN PARIS.)
EUA, Espanha, 2011
Direção e Roteiro: WOODY ALLEN
Fotografia: DARIUS KHONDJI, JOHANNE DEBAS
Edição: ALISA LEPSELTER
Direção de Arte: ANNE SEIBEL
Elenco: OWEN WILSON, RACHEL McADAMS, MARION COTILLARD, KATHY BATES, ADRIEN BRODY, MICHAEL SHEEN
Duração: 100 minutos
Site oficial: http://www.sonyclassics.com/midnightinparis




FICHA TÉCNICA
Diretor: Woody Allen
Elenco: Kurt Fuller, Owen Wilson, Marion Cotillard, Michael Sheen, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Rachel McAdams, Gad Elmaleh, Carla Bruni, Nina Arianda, Mimi Kennedy, Corey Stoll, Manu Payet
Produção: Letty Aronson, Raphaël Benoliel
Roteiro: Woody Allen
Fotografia: Darius Khondji
Duração: 100 min.
Ano: 2011
País: EUA/ Reino Unido
Gênero: Comédia Dramática
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Gravier Productions
Classificação: 12 anos











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