8 de out. de 2011

A Hora do Espanto


Sou muito fã da versão original de 1985. Ao ver a refilmagem, é tão bom afinal ver um filme de vampiros que os vampiros são assustadores novamente. Não que os vampiros cheios de crise de consciência de "Entrevista com o Vampiro" ou "True Blood" não sejam interessantes, mas a figura do vampiro ameaçador é muito interessante. E Colin Farrell e essa refilmagem conseguem reviver essa figura muito bem. O filme tem vários acertos, mas vários outros inexplicáveis erros. Por que tirar todo o clima de sedução do original? E por que o caçador de vampiros Peter Vincent não é engraçado e frágil como no outro filme? E que casa mais clean e moderna é essa que o vampiro mora, onde está o gótico, o assustador, o mistério? Enfim, erros e acertos são comuns a todas as refilmagens, mas alguns erros soam imperdoáveis. De qualquer forma, dá para divertir ver novamente alguns vampiros maus no cinema.

Minha Cotação: * * *


A Hora do Espanto
por Pablo Villaça

http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7767&id_filme=6664&aba=critica

Dirigido por Craig Gillespie. Com: Anton Yelchin, Colin Farrell, Toni Collette, David Tennant, Imogen Poots, Christopher Mintz-Plasse, Dave Franco, Reid Ewing, Sandra Vergara e Chris Sarandon.

Lançado em 1985, A Hora do Espanto representou um retorno mais do que bem-vindo ao conceito do vampiro “clássico”: aquele que teme alho e crucifixos, não é refletido em espelhos e comporta-se como um predador – e isto ao mesmo tempo em que trazia uma história simples que despertava o interesse também de um público mais jovem (sendo seguido em seus passos dois anos depois pelo ótimo Os Garotos Perdidos). Quase 30 anos depois, considerando que fomos apresentados a “vampiros” que cintilam sob a luz do sol e comportam-se como emos centenários, talvez seja hora de revisitarmos criaturas que – assim como aquelas de Deixa Ela Entrar e sua refilmagem – façam jus à espécie.

Entra aí esta nova versão do longa que marcou a promissora estreia (que nunca vingou) do cineasta Tom Holland: divertida e consciente de seu contraste com a popular série Crepúsculo (que por isso é citada pelos personagens), esta produção aposta na violência e no cinismo de seu vilão como fator importante, introduzindo também algumas boas modificações no roteiro original que servem não só para atualizá-lo, mas também para fortalecer a narrativa. Infelizmente, o mesmo processo acaba levando à remoção de vários fatores fundamentais para o sucesso daquele filme, comprometendo consideravelmente os esforços dos realizadores.

Ambientado numa vizinhança situada próxima a Las Vegas (uma das alterações positivas), o roteiro de Marti Noxon confere naturalidade à ambientação noturna da narrativa ao lidar com uma comunidade que não vê nada de estranho em um vizinho que pinta todas as janelas a fim de poder dormir tranquilamente durante o dia. Da mesma maneira, o isolamento retratado de forma rápida pelo plano aéreo que revela a geografia da vizinhança, seu caráter monótono e o deserto à sua volta trazem uma tensão imediata ao longa, já que sabemos que o socorro, se necessário (e será), encontra-se a quilômetros de distância. É neste contexto que conhecemos o jovem Charley Brewster (Yelchin), que mora com a mãe Jane (Collette) ao lado de uma casa recém-comprada pelo misterioso Jerry Dandrige (Farrell). Quando vários estudantes locais começam a desaparecer, Charley é contatado pelo amigo de infância Ed (Mintz-Plasse), que o alerta sobre a natureza maligna de seu vizinho – o que eventualmente abre caminho para a entrada em cena do excêntrico Peter Vincent (Tennant), um ilusionista de Las Vegas cujo espetáculo gira em torno de vampiros e que supostamente é um especialista no assunto.

Diferentemente do simpático Charley vivido por William Ragsdale em 85, o novo herói da refilmagem é retratado pelo roteiro como um sujeito popular que, cercado por garotas bonitas e amigos grandalhões e arrogantes, inicialmente surge como um verdadeiro babaca – uma decisão interessante do roteiro, que, assim, estabelece uma dinâmica complicada entre Brewster e o ex-amigo Ed ao mesmo tempo em que cria um arco dramático (simples, mas e daí?) para o protagonista, que deverá reexaminar-se em função dos acontecimentos. Além disso, como ex-roteirista da série Buffy, Noxon não comete o erro de transformar a namorada de Charley, Amy (Poots), em uma mocinha indefesa, permitindo que a garota demonstre uma iniciativa insuspeita diante das ameaças enfrentadas e tome a iniciativa de resolver seus desentendimentos com o rapaz de forma adulta em vez de recair no velho clichê do “vou me afastar de você até que me salve do perigo!”.

Outra abordagem eficaz, aliás, é a de Colin Farrell: ciente de sua beleza física, o ator a usa como ferramenta de caça, atraindo suas vítimas através de um charme artificial repleto de sorrisos gratuitos, olhares para o além e camisetas justas – e, assim, quando Jerry se entrega à própria natureza bestial, comportando-se (e, em alguns momentos, debatendo-se) como um animal, o choque se torna maior e melhor. Por outro lado, ao contrário das suspeitas graduais de Charley com relação ao vizinho no original, aqui a revelação sobre seu vampirismo surge quase imediatamente e de maneira abrupta como se o roteiro estivesse com medo de perder a atenção dos espectadores – e é exatamente esta mesma percepção que surge quando, na metade da projeção, o filme parece perder a paciência de construir sua história e os personagens e parte para sequências de explosões e perseguições, desviando-se completamente de seu antecessor e substituindo a construção gradual do suspense pelo impacto dos efeitos visuais.

O que é uma pena, pois, até então, o novo A Hora do Espanto vinha se mostrando um sucessor à altura da primeira versão, chegando a introduzir, como já dito, elementos novos que acrescentavam à experiência ao invés de diminuí-la – como comprova a boa ideia de trazer Jerry mantendo uma verdadeira “despensa” em sua casa e também a sequência envolvendo Charley tentando resgatar uma vizinha numa missão que chega a uma conclusão divertida, impactante e que revela bastante sobre o caráter do vampiro. Esta passagem do longa, aliás, é também beneficiada pela direção de Craig Gillespie (uma escolha atípica do estúdio, considerando seus trabalhos anteriores), que a concebe através de uma série de travellings em ângulo baixo que acompanham uma verdadeira dança entre Charley e Jerry, algo bem-vindo em uma Hollywood cada vez mais dominada por planos curtíssimos.

Infelizmente, Gillespie, embora pontualmente eficaz, mostra-se inconsistente como diretor: se em um momento traz uma boa cena na qual Peter Vincent praticamente desmonta (literalmente) sua persona de valente e sedutor caçador de vampiros diante do espectador, em outro apela para uma terrível obviedade ao trazer a mãe do herói colocando imensas estacas (ops, leia-se: placas de “vende-se”) no porta-malas do carro. Da mesma maneira, o longo plano no qual enfoca uma perseguição de carros sem cortes, apenas movendo sua câmera em torno e dentro do veículo, funciona apenas para quem nunca assistiu a Filhos da Esperança, já que surge pouco convincente (graças aos fracos efeitos visuais que expõem o uso do greenscreen) e nada original – uma falta de originalidade, vale dizer, presente também nos créditos finais inspirados em Sherlock Holmes (que, por sua vez, inspirara-se em Três Homens em Conflito, Snatch, etc). Como se não bastasse, Gillespie cede ao que o 3D tem de pior: a tendência de atirar objetos na direção do espectador sem qualquer propósito a não ser o de mostrar que o longa foi rodado em 3D (como se já não soubéssemos), o que serve apenas para tirar o público do filme ao expor sua artificialidade.

Mas os dois maiores pecados cometidos pelo filme residem mesmo em sua trilha sonora e nas alterações feitas na personalidade (e na idade) de Peter Vincent. Composta por Brad Fiedel, a música do longa original era sedutora e evocativa, sendo substituída aqui pelos temas sem personalidade de Ramin Djawadi, que são prontamente esquecidos assim que a projeção chega ao fim. E se o performance de Roddy McDowall na obra de 85 criava um Peter Vincent vulnerável que vivia seu próprio (e admirável) arco dramático, aqui as chances de um personagem igualmente memorável são anuladas pela decisão de rejuvenescer em décadas o sujeito, que perde, assim, a fragilidade e a bagagem tão importantes para seu sucesso.

Seja como for, este novo A Hora do Espanto merece créditos por não suavizar seu vilão, por empregar efeitos de maquiagem eficazes e por trazer pequenos momentos surpreendentes, como o sinal de silêncio feito por uma vítima de Jerry em uma demonstração de altruísmo e a ótima cena que traz dezenas de vampiros saindo das paredes. Além disso, Anton Yelchin se mostra um protagonista carismático, ao passo que Christopher Mintz-Plasse, o eterno McLovin, consegue até soar ameaçador, o que é curioso.

É triste, portanto, que o filme não confie em sua própria capacidade de envolver o espectador e sacrifique a narrativa para provocar o choque barato – algo que pode ser sintetizado na cena em uma boate: se antes Jerry seduzia e hipnotizava Amy em uma dança, agora simplesmente a atira no ombro como um homem das cavernas.

Bom, ao menos esta é uma atitude mais digna de um vampiro do que levá-la para escalar árvores em uma floresta ou frequentar o ensino médio pela 80a. vez.

Observação: Chris Sarandon, que viveu Jerry no original, surge aqui como um motorista que é atacado pela nova versão do vampiro em uma estrada.

06 de Outubro de 2011


A Hora do Espanto (2011)
Fright Night

Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Marti Noxon
Elenco: Colin Farrell (Jerry), Dave Franco, Toni Collette, Anton Yelchin (Charley Brewster), Christopher Mintz-Plasse (Evil Ed), Imogen Poots, David Tennant (Peter Vincent), Sandra Vergara

Sinopse: Adolescente descobre que o seu vizinho é um vampiro. Refilmagem do longa homônimo de 1985.

Estréia: 19/8/2011 (Original) 7/10/2011 (Brasil)

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