9 de mai. de 2012

Paraísos Artificiais

Sabe aqueles filmes que você sai da projeção dizendo como a fotografia é linda? Então, "Paraísos Artificiais" tem a fotografia belíssima, cada enquadramento é preciso, o que envolve não somente as opções de filmagem, mas também toda a escolha de cenários/externas e direção de arte. Acho até chato falar isso, pois eu gosto muito de trabalhos bonitos assim e o que mais me atraiu para essa produção foi a excelência técnica. Mas nesse filme o trabalho de fotografia e direção de arte pareceram fakes, de fato um "paraíso artificial". Tanto esse trabalho estético como a história que pretende contar, que muitos críticos escreveram como uma história que não julga personagens (discordo totalmente, para cada momento hedonista dos personagens existe uma consequência ruim posteriormente), deixam o filme menos espontâneo e mais distante da realidade dos jovens que se propõe a contar. Ainda assim, o filme tem vários méritos, desde o elenco até mesmo o roteiro, que fora a questão do julgamento de seus personagens, tem uma boa dramaticidade. 

Minha Cotação: * * * 1/2


CRÍTICA | ESTADÃO
Muita ousadia de fachada e caretice de fundo
'Paraísos Artificiais' coloca na tela a geração 'T', de testemunho, que fica twittando o tempo todo

Luiz Carlos Merten - O Estado de S.Paulo
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,critica-muita-ousadia-de-fachada-e-caretice-de-fundo-,869670,0.htm





Talvez seja um problema geracional, e ele ocupou boa parte do debate sobre Paraísos Artificiais, quando o filme de Marcos Prado concorreu no Cine PE. No local em que o repórter estava sentado, a fileira da frente foi ocupada por jovens que passaram o tempo todo do filme manipulando seus celulares e enviando mensagens.

Aqueles jovens queriam dar seu testemunho de que estavam no cinema, e talvez tenham escrito nas mensagens que assistiam a um filme de 'pegação'. Sob o efeito das drogas, as raves viram festas sensoriais na tela. Pela primeira vez, Lula Carvalho não é seu câmera. Ele ficou somente no visor, como diretor de fotografia. A intenção assumida de Marcos Prado foi fazer um filme belo e sensorial. Os jovens drogados viajam nos paraísos artificiais. Pegam-se - homens e homens, mulheres e mulheres, homens e mulheres.

Paraísos Artificiais coloca na tela a geração 'T', de testemunho, esses jovens que ficam twittando o tempo todo, dando conta do que vivem. E a estética do filme é 'corta e cola', como a arte do DJ - não por acaso, Érika, a protagonista feminina, é uma DJ, que faz carreira musical no País e no exterior. Um pouco por isso, a narrativa do filme viaja - Rio, Amsterdã, praias do Nordeste.

Prado e Lula Carvalho recriam o clima alucinatório das drogas, mas sem exagerar nas lentes deformantes. As garotas ficam acuadas por búfalos num desfiladeiro em Alagoas - e a cena é muito bem filmada. O Ibama teve de autorizar o transporte dos animais do Pará. A estética é nova, ou pretende ser nova, mas considerando-se a censura do filme - 16 anos -, está uma geração atrás. O básico sensorial e audiovisual de Paraísos Artificiaisvem de Kathryn Bigelow - o importante é que tem gente que sabe disso.

E, a despeito das novidades e ousadias - das safadezas -, o filme conta uma história tradicional (careta?) de perda e reparação, de encontros, desencontros e reencontros. Marcos Prado embaralha a narrativa - 'esculpe o tempo', como se diz. Mas não há nada, em seu filme, que não esteja em À Beira do Caminho, de Breno Silveira, que também concorreu no Recife, Só que, lá, a rave é substituída por canções românticas de Roberto Carlos. No universo de jovens, há até um velho - o hippie - que, por meio da palavra, reflete sobre as drogas e resume a 'mensagem' do autor.


FICHA TÉCNICA
Diretor: Marcos Prado
Elenco: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro, Divana Brandão, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Roney Vilela, Emilio Orciollo Neto, Mathias Gottfried, Yan Cassali.
Produção: José Padilha, Marcos Prado
Roteiro: Cristiano Gualda, Pablo Padilla, Marcos Prado
Fotografia: Lula Carvalho
Trilha Sonora: Rodrigo Coelho, Gustavo M M
Duração: 96 min.
Ano: 2012
País: Brasil
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: NOSSA
Estúdio: Zazen Produções
Classificação: 16 anos


6 comentários:

  1. Logo que acabou o filme a minha frase foi essa: nossa que fotografia linda! Hahahaha. Realmente, fizeram um belo vídeo clipe moralista, mas com cenas bem apimentadas. O que não gostei foram algumas cenas muito longas e a falta de uma solução bacana do final, que fica em aberto.

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    1. Hahahahaha... pois é, esse lance da fotografia chama mais atenção do que o filme em si. Eu até gostei do final, achei emocionante. Mas realmente existem umas partes que o filme se estende demais. Apesar dos pesares, está acima da média.

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  2. Gostei das suas considerações. Tenho minhas ressalvas qt ao filme, mas no geral, até q gosto. São belas imagens mesmo, filmadas com aquelas cameras de lentes enormes. Abração!

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    1. Também fiquei com essa impressão, Celo. O saldo final é positivo.

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  3. Morro de vontade de ver essas estréias, mas nem o tempo nem a disponibilidade nos cinemas daqui deixam! Vou saciando a curiosidade lendo os comentários dos amigos. Os seus estão ótimos como sempre.

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    1. Obrigado, Cleidson. É difícil acompanhar mesmo todas as estréias, aqui em São Paulo a gente convive com um excesso de filmes em cartaz, é preciso saber escolher. Mas filme nacional pra mim sempre é prioridade.

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